Estado de Minas: Júlia Melgaço (Estagiária sob supervisão do subeditor Gabriel Felice)
Com o objetivo de resgatar e preservar a memória e cultura LGBT+, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) vai abrir, ao longo deste semestre, o “Acervo LGBT+ Cintura Fina” para pesquisadores interessados em desenvolver trabalhos com base nos seus documentos. A UFMG foi a primeira instituição a dedicar uma coleção exclusiva do gênero.
O acervo dispõe de materiais majoritariamente impressos, como documentos, fotos, livros e recortes de jornais e revistas cedidos pelo pesquisador Luiz Morando. Mediado pelo coordenador do Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania LGBTQIAP+ (NUH), Marco Aurélio Prado, e pela doutora em Ciências da Informação, Joana Ziller, toda a coleção foi institucionalizada em 2023.
Ao Estado de Minas, a professora do Departamento de História da UFMG e diretora do Acervo LGBT+ Cintura Fina, Marina Duarte, destacou a importância de intervir na exclusão e apagamento de pessoas LGBTs na história brasileira.
“Há algum tempo, já vem se tendo essa demanda de memória e de história da comunidade LGBT no Brasil. E isso é feito, majoritariamente, por acervos comunitários. Só que esses acervos não têm um lugar institucional para guardar os documentos com política de aquisição e de descarte”, contou. “Os acervos comunitários são muitíssimo importantes, mas eles têm essa dificuldade de uma continuidade, né?” completou.
Desde novembro de 2023 a comunidade acadêmica da UFMG já pode ter acesso ao acervo. O agendamento para visita deve ser feito por meio do site do Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania LGBTQIAP+ (NUH).
Está previsto que, ao longo do segundo semestre de 2025, todos os interessados em desenvolver trabalhos possam ter contato com os materiais.
Cintura Fina
O nome do acervo homenageia Cintura Fina, uma dissidente sexual importante no cenário LGBT+ de Belo Horizonte. Natural do Ceará, ela viveu na capital mineira por quase 30 anos, nas décadas de 50, 60 e 70. Nesta época, foi cozinheira, faxineira, profissional do sexo e gari.
“A importância do nome é a importância de uma figura LGBT dissidente que viveu em Belo Horizonte, que era negra, e muitas vezes foi representada como uma pessoa branca. Além de ser uma homenagem, o nome demonstra a importância dessa valorização da memória em Minas Gerais. Porque o acervo tem uma dimensão nacional e transnacional, mas tem muitos documentos que são próprios de Belo Horizonte e de Minas Gerais. Nomeá-lo com uma figura importante para a comunidade local faz todo o sentido”, destacou Marina Duarte.
Cintura Fina viveu seus últimos anos em Uberaba, no Triângulo Mineiro, onde morreu em 1995, aos 62 anos. Em dezembro de 2021, foi reconhecida como cidadã honorária de Belo Horizonte.